Teoria que vinculava o desenvolvimento da capacidade intelectual à influência da música de Mozart foi revista e abriu espaço para outras possibilidades.

Mas a febre do efeito Mozart logo encontrou a resistência de outros pesquisadores. Estudos posteriores concluíram que os benefícios cognitivos obtidos após o contato com a música eram, na verdade, temporários e se limitavam à capacidade de projeção espacial. Não se podia falar em um aumento geral da inteligência! Além disso, ficava cada vez mais claro que o efeito não estava atrelado exclusivamente à música clássica e menos ainda a Mozart em especial. Ao lado de Schubert e Bach, músicas pop e mesmo a leitura em voz alta de uma emocionante história de Stephen King também funcionavam tão bem quanto ou até melhor: na verdade, o resultado dependia da preferência individual de cada participante! Aparentemente, as pessoas pesquisadas só solucionavam as atividades do teste com mais facilidade quando os estímulos os inspiravam intelectualmente e os deixavam de bom humor.
Para a discussão sobre o efeito da música sobre a capacidade intelectual, deve-se diferenciar entre a audição passiva de música e a atividade musical ativa. A maioria dos estudos sobre o tema “produção musical e inteligência”, infelizmente, deixa um pouco a desejar em termos metodológicos. Alguns resultados conclusivos foram fornecidos, entre outros, pelo psicólogo canadense Glenn Schellenberg: por volta de 2004, o cientista da Universidade de Toronto acompanhou o desenvolvimento de 144 alunos do primeiro ano fundamental que durante meses tiveram aulas de piano ou de canto e de teatro ou não tiveram nenhum estímulo extra-escolar. Realmente, à medida que o tempo passava, mais os alunos produtores de música conseguiam uma vantagem intelectual em relação a seus colegas: porém, após oito meses, essa vantagem era em média de três pontos de QI – no entanto, às vezes essa grandeza corresponde à variação de valores que ocorre até com a mesma pessoa. No mesmo período, as crianças do grupo de teatro – diferentemente de todos os outros alunos – expandiram claramente sua capacidade social.
O próprio Schellenberg observou, em um estudo mais recente, que uma vantagem intelectual bastante tênue adquirida pelo aprendizado de música na infância se mantém possivelmente até a idade adulta. Mas em vista do esforço necessário para obter esse resultado, o aprendizado de música não pode ser visto como caminho rápido e fácil para o aumento da capacidade intelectual. Na verdade, provavelmente não apenas aulas de música, mas qualquer aula extra, de maneira geral, tem efeito positivo sobre o desenvolvimento cognitivo.
Em resumo, estímulo é bom, mas quem não toca um instrumento musical não fica automaticamente atrás dos outros. O que é uma boa notícia para os que não têm aptidão musical. Assim, o desenvolvimento das crianças pode ser incentivado também por meio de estudos de física, literatura ou um idioma, de forma que sejam respeitadas as preferências de cada um.
Ralph Schumacher é professor de filosofia da Universidade Humboldt de Berlim; desenvolveu projetos de estímulo de competências cognitivas pela música, no Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha.
– Tradução de Renata Dias Mundt
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